Chamando de sonho

O quarto está vazio, um escuro profundo, não existem sequer lugar para sombras, o silêncio toma conta de tudo, um silêncio absoluto, como se já nada existisse, nada se move. Será que o tempo parou?

Ela permanece ali, triste, com um olhar solitário, voltado para as gélidas paredes brancas do quarto, sente que não é o momento certo para nada, pois as sombras silenciosas que trepam até junta dela, transmitem-lhe medo, medo, medo... 

Por algum tempo ficou entristecida sem forças para nada, até que ganhou uma vontade enorme de escreve, não sabia vem o quê, pegou no seu bloco de notas e de seguida uma esferográfica, as palavras tropeçam umas nas outras com vontade de passarem para o papel, um turbilhão de emoções corria pelas veias, captava todos os vestígios que ele deixara da última vez que esteve naquele lugar, era como se ainda ainda estivesse, uma presença invisível que a fazia sorrir por segundos.

Nesse momento rasgou aquela pele fria e amarga do seu corpo, foi como se rasgasse a máscara mais perfeita até então, deitou fora aquilo que não interessava, os medos, as inseguranças, as indecisões, olhou para dentro de si e estabeleceu novas metas. Em poucos minutos averiguou, confirmou ao pormenor e de facto era mesmo incrível, estava tudo a mudar, tudo se substituía, uma névoa rosada e fresca toma conta daquele lugar, já não vê as paredes,o chão, o tecto, sente-se a flutuar naquele espaço, completamente envolvida e preenchida por aquela névoa.

A ilusória tranquilidade dos últimos meses fizeram que crescesse imenso, fez com que mudasse a sua imagem no espelho, sentia-se amada, desejada, no mais lindo "conto de fadas", mas agora acordou, meia desconfiada, abre os olhos de vagar - primeiro um, depois o outro, e apercebesse de toda a realidade. Olha para o relógio digital, sobre a cabeceira, já passa da meia noite, mas parece já não ter medo deste novo dia, é como se momentaneamente saísse de uma realidade e passasse para outra realidade diferente, onde tudo está bem, onde tudo é paz, tudo é adequado. 

Agora deitada, fecha os olhos, onde permanece algum tempo, e de repente, começa a ver algumas imagens, todas ao mesmo tempo, como se estivesse no cinema, onde várias cenas são projectadas ao mesmo tempo, será uma faceta?

Não, ela vê projectada todos os seus momentos, num deles, está junto dele, e diz gritando o quanto o quer junto a ela, o seu próprio grito despertou todos os instintos e continua gritando, gritando. Nisto, juntam-se, mais e mais, até se entregar o seu corpo ao dele.

Não será a realidade dos seus dias, mas ela viverá como se o tivesse mesmo ali todos os instantes!