Respira errante e ritmada - parte II

        

    Sara, esperou o momento ideal para fechar a porta do quarto, já não ouvia o som abafado da televisão na sala de estar, receava este momento, porque, agora no silêncio total da noite, ela temia que as lágrimas que tinha acumulado se soltassem em breves instantes, nesta noite não pode dormir, distorcia-se entre os lençóis, sentia que não havia ninguém disposto a lhe estender a mão.

   Teve que invocar todas as suas reservas de força para se concentrar a fim de esboçar um sorriso encorajador.

Sentia a casa vazia, como um barco apodrecer no cais, lá fora o céu cada vez mais escurecido era rasgado por relâmpagos poderosos e retumbantes que vertiam em pequenos ápices todos os pensamentos afortunados de momentos passados. Embora temeroso, procurou fazer de conta que era uma noite serena, permanecendo de olhos firmes na parede durante a hora seguinte, enquanto a chuva foi diminuindo lentamente.

    Mais, uma madrugada em que permanece noite dentro, imóvel no silêncio tranquilo de um tempo parado nos relógios, uma dor terrível cravado no peito e espalhando-se daí como ondas do mar pelo resto do corpo, perde a capacidade de se conter. Foi tudo muito rápido, mas está na hora de parar, descansar, já não sei há quanto tempo foi, que Sara não acorda com o ar de uma menina de dez anos, com os olhos a brilhar como duas estrelas.